quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O DIÁRIO ROUBADO - RÉGINE DEFORGES




ALERTA SPOILLER
Título: O Diário Roubado
Título Original: Le Cahier Volé
Autora: Régine Deforge
Editora: Record
Páginas: 140
Sinopse:  Em O Diário Roubado, Regine Deforges narra, em uma linguagem delicada, o desabrochar dos sentimentos e da sexualidade entre adolescentes. O cenário é uma cidadezinha do interior da França. Léone ama Mélie, sua amiga do colégio; mas também gosta de Jean-Claude, mas a situação fica difícil quando alguém rouba seu diário. 
A autora consegue transmitir nessa história os intensos conflitos vividos pelos personagens, suas famílias e a própria sociedade.
Resenha: Léone era uma garota de quinze anos que tinha a mente adiantada demais para sua época. Vivia em uma cidade onde todas as pessoas eram conservadoras, tradicionais e tudo que fugia ao comum era considerado antinatural e condenado por seus moradores. Léone era uma dessas pessoas que vivia como queria, sem se importar se as pessoas da sua época não aceitavam as coisas que ela fazia. E ela era um tanto incomum para aquela época, pois namora Mélie, uma garota que era sua amiga a muito tempo e estudava junto com ela.
Léone é muito bonita e chama a atenção dos rapazes da cidade. E consciente disso ela se divertia com os rapazes também. Tinha um desejo sexual muito maior por homens do que por Mélie, e apesar de ser virgem morria vontade de ir pra cama com alguns caras que conhecia. Jean-Claude era o cara que ela mais gostava de ficar, e sempre saía a noite com ele para se divertirem juntos. Mesmo Jean-Claude sendo loucamente apaixonado por Léone, ela jamais abriria mão de seu sincero amor por Mélie, e por isso ela nunca lelvava Jean-Claude a sério.
Em um baile da cidade Léone é apresentada a Alain, um cara que tinha acabado de chegar na cidade com sua família e de quem Léone logo de cara odiou. Mal sabia que era exatamente Alain que tornaria sua vida um terrível pesadelo. Isso porque Léone mantinha um diário em segredo, onde escrevia sobre todas as suas aventuras sexuais com Mélie. Ninguém sabia da existencia desse diário, Léone pensava. Até que o diário foi roubado por ninguém menos que Alain.
Foi então que tanto os pais de Léone tanto os pais de Mélie foram chamados a delegacia da cidade. Descobriu então que o abade C. tinha prestado uma queixa contra as duas por atentado ao pudor e tinha dito que podia comprovar sua queixa com o diário roubado. A policia no entanto disse que estavam dispostos a esquecer a queixa caso Léone recuperasseo diário. A partir de então Léone provou da pior forma a crueldade e a hipocrisia das pessoas da comunidade onde vivia. Ela era incapaz de aceitar que fosse julgada por pessoas que tinham atitudes imundas, e era incapaz de enxergar como erro o amor que ela sentia por Mélie.Passou então a odiar os adultos. Suas próprias palavras:

 
"E agora que estou crescendo, que vejo os adultos, nossos modelos, digo para mim mesma que não, não e não, não devo parecer-me com eles. Acima de tudo porque são repugnantes. Repugnantes pela autocomplacência, pela sujeição às leis e aqueles que detêm o poder, dignos portanto de escárnio, nesses lados do Poitou. Eles vivem no temor de chocar, de serem julgados. 'Que vão pensar de nós?' e 'Que vão dizer as pessoas?' são as frases que mais frequentemente ouvi a minha volta. Eles não possuem nenhuma liberdade. Logo descobri que o homem não ama a liberdade, que ela não passa para ele de um tema de conversação. Que, livre, se sentirá tão perdido quanto uma criança sem o pai. Ele exige a liberdade em altos brados, mata em seu nome, tortura, humilha. A liberdade não foi feita para eles. É uma palavra que, pelo menos em mim, libera a imaginação."

A partir de então o caso tomou uma proporção enorme, durante muito tempo Léone não podia nem sequer sair na rua sem ser agredida pelas pessoas. As mulheres a chingavam e as crianças jogavam pedras para machucá-la. Mas ela não abaixava a cabeça, pois sabia que cada um de seus agressores tinham segredos muito mais impuros que o dela. 




"Não vejo de onde vem a agressão, mas a bofetada que recebo é da Sra. R. Quanto a Sra. L., ela me pega pelos cabelos. Tento, como posso, aparar os golpes, mas agora elas são cinco ou seis a minha volta. Um crescente ajuntamento forma-se ao redor, surgem garotos que zombam e tentam me atingir com pontapés:


- Vagabunda, vagabunda!


A manga do meu casaco novo é rasgada, começo a sangrar pelo nariz, e isso deve excitá-las, pois me sacodem com mais força. Ninguém interfere."


Em suma, é uma história onde podemos refletir sobre a hipocrisia das pessoas que nos cercam e dos julgamentos maldosos feito pelos outros acerca de nós mesmos ou feito por nós acerca de outras pessoas. Mostram também a ambição humana por achar que tem o poder de julgar o ato de seu próximo. É triste e fascinante.
Comentário: Foi o primeiro livro de Déforges que li. Me apaixonei pela escrita dela, e pude ter certeza que não foi mera coincidência, quando li outro livro que ela escreveu. Em relação a história eu achei excelente. Tem um tom dramático e ao mesmo tempo nos libera a sensação se estar sendo injusto. Aborda um assunto que é muito constante nas minhas discussões com amigos. A bissexualidade de Léone era muito para a época dela, mas ainda hoje sabemos o quanto os GLBS são discriminados. E eu acho que isso  é muito hipócrita nas pessoas. Por ser de cunho autobiográfico é ainda mais repugnante imaginar que a autora tenha sofrido esse tipo de discriminação. Régine é brilhante demais para sua época, e sua beleza exterior era também o motivo de seus maiores infortúnios.
Autora
 Régine Deforges é conhecida como a maior representante da literatura erótica francesa. A escritora foi a primeira mulher a comandar uma editora na França e, durante anos, foi censurada por publicar uma literatura “ofensiva”. A pressão de grupos conservadores levou Deforges a fechar a empresa. A autora consagrou-se com a publicação da série de sete volumes iniciada com o livro A bicicleta azul, em 1981. O diário roubado foi adaptado para o cinema em 1993, dirigido pela francesa Christine Lipinska. Régine Deforges nasceu em 1935 e vive em Paris. 





10 comentários:

  1. Nunca tinha ouvido falar do livro e nem da autora, porém acredito que na época em que vivemos bissexualidade é algo bem comum. Muito mais do que na época retratada no livro. Enfim, a obra não me interessou muito.

    memorias-de-leitura.blogspot.com

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    1. É bem comum, mas não bem aceito!
      É uma pena que não tenha se interessado, gostei muito! :)
      Bjoss

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  2. Não conhecia esse livro, nem a autora até agora, mas pelo que tu descreveu parece que estou perdendo tempo e deveria ler logo algo dela :D

    Bjs
    http://www.confraria-cultural.com/

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    1. Também acho que deveria ler agora!
      HSUAHSUAHSS
      Gostei muito da autora!! =D
      Bjoss

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  3. Achei a história bastante interessante, e me interessei pelo livro. Só não entendi uma coisa: Se ela sentia mais desejo por homens, porque namorava a melhor amiga? Apenas para chorar essa sociedade hipócrita?
    Não que "chocar essa sociedade hipócrita" seja um motivo inválido. Afinal, não estou questionando. Só fiquei curiosa mesmo. rs

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    1. Então, ela gostava muito de ficar com os meninos, mas para ela todos eram idiotas. Enquanto Mélie, sua melhor amiga, era encantadora. Ela amava Mélie como pessoa, o que nunca sentiu por homem nenhum. Pelos homens era estritamente sexual, sabe?
      Espero que possa ler o livro, vale muito a pena!
      Bjoss

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  4. Amiga resenha super boa amei o livro deve ser ótimo
    Blog: http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br
    Canal de youtube: http://www.youtube.com/NekitaReis

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  5. Uaallllll, que história, que resenha, que triste, que realista, que verdadeiro, que emocionante... que tudo (kkk' tá, essa foi demais)

    Poxa, amei a resenha, sério mesmo, o livro me pareceu um YA, certo?
    Achei muito legal, nunca tinha ouvido falar dele nem da autora, mas sinceramente, fico feliz por ouvir agora. Amei o estilo do livro, aborda um tema que se já é polêmico nos dias atuais, imagina na época, sei que hipocrisia é algo que parece impregnar o ser humano e que todo mundo tem um pouco (julgamos sempre algum ato de alguém e não demora muito até nos flagramos fazendo a mesma coisa ou pior e dizer que conosco é diferente).
    Achei muito triste a história e fiquei super comovido por saber que é de cunho autobiográfico, parece um livro ótimo e sua resenha só enfatiza isso. :D
    Meus parabéns pela resenha, uma das melhores que já li até hoje (Sem exagero nenhum) beijos e até a próxima.

    Hendrio Ritchele!

    http://leituraadentro.blogspot.com.br/

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    1. Gente, só vi seu comentário agora!
      Muuuito obrigada pelo elogio, chorei aqui! Rsrs
      É verdade, a hipocrisia é algo que está em todo ser humano e eu luto arduamente todos os dias comigo mesmo. Rs
      A história é muito triste mesmo, e nos leva a refletir sobre nossas atitudes e a odiar as pessoas que são cruéis apenas por serem. Vale a pena ler! =D
      Bjoss

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